INTRODUÇÃO À HOLOGRAFIA


Acredito que podemos oferecer uma visão diferente e mais simples, porém completa, da que se conhece nos textos e na Web.
 Se quiser ver algo de óptica básica, veja a apostila de óptica geométrica do Prof. Lunazzi.

Se quiser ter uma visão mais convencional da holografia, leia o artigo da revista "Ciência Hoje" de janeiro-fevereiro de 1985 e o vídeo que utilizamos desde 1976 (temos a versão em português).
Temos que ver o assunto desde dois pontos de vista:

1) O esquema lógico (segue aqui embaixo), consequência do aprendizado feito pelo Prof. Lunazzi, e que é diferente do tradicional.

2) A descrição histórica, que é sempre uma ajuda para quem deseja entender melhor ainda e aspira atingir novas descobertas.

1) INTERPRETAÇÃO SEGUNDO O PONTO DE VISTA DO REGISTRO DE RAIOS E SUAS DIREÇÕES (PROF. LUNAZZI).

A holografia pode ser explicada sim como o registro e reprodução ("congelamento") dos raios luminosos.
Desta maneira podemos atingir uma visão simples e prática, sem precisar ainda chegar a utilizar os princípios da interferência e difração das ondas, e muito menos a formulação matemática que usualmente aparece como efetuada no campo dos números complexos e não dos reais.

Esta maneira foi usada ja no catálogo da segunda exposição de holografia realizada pelo Prof. Lunazzi, em 1982.

Consiste em observar uma cena tridimensional da seguinte maneira:

De todos os pontos do objeto saem raios em todas as direções, como vemos exemplificado nos pontos 1,2 e 3. Entre o objeto de onde os raios de luz são espalhados e o observador ha um plano intermediário contendo em cada ponto um raio representando cada ponto do objeto. O observador, por possuir dois olhos, ve a cena em terceira dimensão, podendo se deslocar a outra posição para receber outros raios que vão lhe mostrar uma nova perspectiva do objeto, a cena desde outro ponto de vista.

Como é num espelho?

Um espelho, afinal, é um desviador de raios de um objeto, e um observador que ve uma imagem em um espelho de qualidade perfeita não sabe dizer se está vendo um objeto ou uma imagem dele, sem recorrer a observações adicionais. A pessoa percebe que o objeto está por perto, e entende se tratar de uma reflexão. O espelho seria também um caso de plano intermediário.

Como é no holograma?

Temos um objeto sendo iluminado desde qualquer direção ou direções por uma fonte de luz monocromática coerente, chamemos ela de luz "pura" (idealmente um laser, e o mais comum é que ele seja vermelho).
O observador ve o objeto por meio de todos esses raios, e devemos entender que se esses raios fossem reproduzidos no plano H, não haveria como deixar de ver ao objeto exatamente como ele é visto sempre.

Preparandonos para fazer a reprodução, escolhemos um plano intermediário H onde fazemos incidir lateralmente um feixe uniforme, que chamamos de "feixe de referência". Alí colocaremos um filme fotográfico de altíssima nitidez para ser exposto e revelado. Note que não ha lentes formando imagem.

Pois bem, o holograma faz exatamente isso, devolve todos os raios que chegaram no plano H, conservando sua direção e sua intensidade perfeitamente.  Para isso necessitou de um feixe de raios simples, que chega lateralmente, o chamado feixe de referência.  Referência de que?  De ângulo, de inclinação. A holografia consegue ter um registro que indica o ângulo em que o feixe chegou, a fotografia somente registra a intensidade.

Retiramos o objeto de seu lugar e imagem que sai do holograma fica então assim:

Usou-se um feixe igual ou muito semelhante ao referência para obter o mesmo plano H que quando o objeto estava realmente. A pessoa vê o objeto como se ainda estivesse alí. Vê a imagem tridimensional com suas nuances de perspectiva, podendo ver tambem de lado.


DESCRIÇÃO MAIS DETALHADA DO FENÔMENO

Como a holografia faz para "congelar" os raios do objeto? Trata-se de um perfeito casamento entre o fenômeno da INTERFERÊNCIA e o da DIFRAÇÃO.
Vejamos o caso de um raio do objeto se encontrando com um raio do feixe referência em um ponto (pequena região) do filme holográfico. O encontro de dos raios "coerentes" (que podem produzir interferência, tipicamente os de luz lêiser, ou de lâmpada de vapor de mercúrio de baixa pressão e filtrada (não as de iluminação) gera uma estrutura periódica de franjas que, ao iluminar o filme, ficará gravada.
Na interferência, o encontro de luz com luz pode produzir não somente luz como também escuridão, alternadamente. Luz pode cancelar luz, poderiamos falar de luz em fase positiva e luz em fase negativa para entender o fenômeno.
 
A distância entre franjas d diminui rapidamente quando aumenta o ângulo entre os feixes. Calculando, temos que vale:

comprimento de onda/soma dos senos dos ângulos.

O comprimento de onda, para luz lêiser vermelha, é de 0,00065 mm,
e o ângulo objeto é um valor entre 0 graus (incidência perpendicular) e menos de 45 graus (pois 45 graus é o valor usual do ângulo do feixe referência).
Calculando o valor do seno dos ângulos, temos que, d vale próximo de 0,001 mm ou um micrometro (invisível a olho nú).

 

Quando as franjas são liberadas para expor o filme, depois de este ser revelado temos uma estrutura periódica material, formada agora pelo material que ficou no filme depois que foi eliminado dele o material que não recebeu luz (as franjas escuras). Se então reposicionamos o filme e o iluminarmos pelo feixe de referência ou por outro feixe na mesma direção, uma parte dele o atravesará normalmente, mas acontecerá um desvío de outra parte do feixe por causa da pequena estrutura, fato conhecido como DIFRAÇÃO DAS ONDAS.
 
Pelo fenômeno da difração a holografia "lé" a marca das ondas registradas, e  devolve ondas semelhantes em tudo.

A equação que da a direção da luz desviada por uma estrutura periódica é casada com a que vimos antes, a da interferência.

Assim:
seno de ângulo de incidência+seno de ângulo de desvio= comprimento de onda/periodo da estrutura

Que resulta em:
ângulo de desvio=ângulo do raio objeto

Com isto está explicado como reproduzir um raio, o miraculoso da holografia está também em que o processo pode ser aplicado quando não um, senão muitos, milhares de raios vindos das diferentes partes do objeto, chegarem ao filme junto com o feixe de referência.
A estrutura periódica que cada raio criaria se estivesse sozinho, cede uma parte para a que corresponde a outro raio, e os dois raios compartilham o material atingido por eles sem chegar a tomar todo o material de registro.  Ou seja que a informação da presença deles fica preservada e não resulta em material "velado" (completamente escurecido, no caso de filme fotográfico).

Tome este texto em formato de apostila para imprimir frente e verso em uma folha A4 formato paisagem.


Ensino mais avanzado: figuras do capítulo 2 do livro "Holography" de M. Françon, com subtítulos traduzidos.

Textos sobre holografia:

"Holografia: A Luz Congelada" - José J. Lunazzi, rev. Ciência Hoje-BR - jan.-fev. 1.985 (encontra-se neste síto na internet).
"Manual de holografia", Universidade de Alicante-España-1989  Somente se conseguiria na dita universidade.
"Holography" - Y.M. Denisyuk- ed. MIR-Moscou  Texto simples, sem fórmulas. É baseado na holografia como foi inventada pelo próprio Denisyuk. Não é fácil hoje conseguí-lo.
"Holography" - Ostrovsky
"Holography" - Graham Saxby - Não utiliza fórmulas e é muito extendido na parte prática. Tem na biblioteca da FEEC da UNICAMP.
"Optical Holography" - Collier, Burckhardt e Lin - Academic Press - varias edições. Contêm basamento teórico e informação para uso prático em laboratório. Tem no IFGW-UNICAMP
"Holography" - M. Françon. TEm no IFGW-UNICAMP