MEDIDAS DE SEGURANÇA NO USO DE
Disciplina F 329 UNICAMP-IFGW copyright 1996 Prof. J.J. Lunazzi última revisão fevereiro de 2.002
MORTE SÚBITA
Infelizmente não passa um ano, um semestre, sem que tenhamos
no jornal a notícia de um ou mais mortos na região por causa
da eletricidade. Uma vez foi um PM que em sua casa, tocando na geladeira,
morreu.
Outra vez, uma pessoa acabou dando morte à filha pequena ao
eletrificar um arame na cerca de proteção da horta, para
não permitir o aceso a galinhas.
Outra, uma pessoa que foi procurar refúgio embaixo de uma árvore na chuva. Mais recentemente (verão de 2000), dois garotos atravessaram nadando um rio para roubar frutas em um quintal abandonado na beira do Rio Atibaia, onde o arame farpado tinha sido eletrificado. Um morreu primeiro, o outro, tentando salvar aquele. No verão de 2001 o mesmo acontecéu no córrego Rio das Pedras, em Barão Geraldo. |
(vendo a figura isoladamente pode-se ler o texto) |
Conhecemos no entanto casos de pessoas sobrevivendo com o braço queimado por tocar num fio de alta tensão, outras que até tocam nos fios elétricos com naturalidade. A explicação está no fato de a corrente elétrica não matar pela sua potência, mas sim pelo efeito desarticulador que gera se atinge uma região específica do coração, provocando sua parada. Tocar um único ponto de um circuito não pode causar corrente alguma, ela se estabelece quando tocamos cargas em excesso e, por outra parte de nosso corpo, fazemos contato com um elemento que pode recebê-las.
As cargas em excesso provém de um fio ou material condutor eletrificado, um objeto carregado eletrostáticamente, ou eventualmente um raio. O elemento receptor pode ser um condutor que está em contato com outra parte do circuito, ou o chão, no chamado contato à terra. Na terra há pouca densidade de carga, e as cargas tem facilidade para se espalharem.
O circuito se fecha assim em nosso corpo e só é mortal se atinge o coração, mesmo que a corrente seja pouca (uns 80 mA). Vemos então que o mais importante é o caminho que a corrente pode fazer, ficando de segunda importância o fato de que correntes maiores abrangem regiões maiores de nosso corpo.
O circuito mais comum é observado quando temos os pés em contato com o chão, ou calçado de couro (que sempre está úmido) e tocamos com uma mão uma certa região eletrizada.
Se a mão for a direita, temos boa chance de sobreviver pois o
coração está do lado esquerdo (na grande maioria das
pessoas).
No circuito a corrente passa afastada do coração. | Se tocarmos com a mão esquerda, temos a pior das situações: |
E se tocarmos com as duas mãos, também entramos numa situação de grande risco. |
Ficar isolado do chão é assim a primeira e mais simples das precauções. Usando calçado com sola de borracha ou plástico, e estando sobre um chão de plástico (como o do laboratório de eletricidade) somente teremos risco se colocarmos as duas mãos no circuito. Pessoas que trabalham nessa situação, o que não é comum de acontecer, poderiam usar uma pulseira em cada mão, ligadas por um fio metálico (vão-se as mãos mas fica o corpo).
Já pessoas que trabalham constantemente em ambiente de risco,
como um eletricista de indústria, aprendem a fazer uma dieta sem
gorduras nem abacaxi, que as deixam isoladas. Isto parece incrível
mas o vi acontecendo com um vizinho; ele tocava uma ou outra fase da linha
elétrica com pés descalços sobre lajota, deve ser
porque a pele seca é bem isolante, somente a transpiração,
a condução por sais nos líquidos, é que faz
a condução.
O QUE NÓS, MORTAIS, DEVEMOS FAZER
Curiosamente a maioria das mortes por eletricidade acontecem por batida na cabeça: a pessoa cai pelo choque e assim morre. Assim o uso de capacete é um grande salvador de vidas.
O melhor, claro, é não arriscar: pode-se verificar a existência de tensão por meio de um simples e barato testador de neónio: trata-se de uma pequena lampada que só acende se houver 110 V (também há um modelo mais útil, que pode diferenciar se temos 110 V ou 220 V).
Vemos também que não é tão mais perigosa a tensão de 220 V que a de 110 V (na verdade 127 V em Campinas), sendo que com 220 V temos menos perdas e melhores contatos.
Usar luvas isolantes, ou uma (ou melhor duas) folhas de plástico para tocar ao mexer em situações de risco ou para pegar uma pessoa que está eletrocutada é uma solução quando não se dispõe da melhor: DESLIGAMENTO IMEDIATO DA CHAVE GERAL. Sabe onde está a chave geral de nosso laboratorio? Pergunte.
A tensão elétrica (nisto não sei se faz alguma diferença ser contínua ou alternada) contrai os músculos e é por isso que a pessoa fecha a mão e fica presa ao fazer contato.
Tocar um único fio não deveria dar choque, se estivermos
isolados. Isso explica a tranquilidade dos passarinhos nos cabos de rua,
onde os mais altos levam tensões de até 40.000
V !!.
Para tensões de mais de 1 MV (sim, ouviu bem 1.000.000 V), como
temos nos fios que vem das centrais elétricas (porque uma alta tensão
reduz as perdas na transmissão), existem roupas de fios de prata
que operários especializados usam para consertos na linha ativa.
Com isto não somente distribuem pela roupa uma corrente que
fosse devida a uma eventual falha de isolamento como também evitam
o efeito da diferênça de potencial que há com o chão,
que distribuída no comprimento do corpo, é considerável.
O salário não será muito alto considerando-se
o risco, mas que a roupa é luxosa, é!
8-)@
SEGURANÇA EM CASA
Vemos em alguns aparelhos domésticos importados, e mais recentemente em nacionais, um conector de três pinos. Um deles deveria encaixar na tomada ligando-se a um fio que estivesse ligado a uma conexão à terra, independente de todas as outras que houver na casa, como a da própria entrada na caixa de eletricidade. O aparelho, que é de caixa metálica, ou então o clássico chuveiro, tem esse contato como um meio de drenar uma eventual fuga de eletricidade, por um fio solto ou um vazamento de líquido, em que a eletricidade iria senão para o corpo da pessoa.
Se além disso a casa tiver um disjuntor diferencial, que sensível à diferença entre a corrente que entra e a que sai da casa desligando logo por causa disso, teremos uma situação de máxima segurança.
Em outros aparelhos um dos contatos do conector é mais largo, e somente poderia entrar no conector fêmea na posição certa, que colocasse a fase (pólo ativo) e o nêutro (via de retorno da corrente) da maneira mais segura (se acidentalmente o usuário toca no lado do neutro, não ha perigo).
Também temos situações de perigo mesmo com tensões
nominalmente baixas: as tensões reduzidas por transformadores que
fazem parte de um bobinado único com derivações, que
deveriam ter o nome correto de autotransformador.
Nestes a diferença de potencial entre terminais de saída
é pequena, mas entre um dos terminais e terra pode ser de 110 V,
dando choque para quem o toca.
Um transformador a bobinas independentes não da choque mesmo
que estejamos em contato com o terra, mas por custar mais caro (aproximadamente
30 % a mais) não é o que se utiliza comumente (conversões
110-220 V, por exemplo).
A ELETRICIDADE COME QUIETA
A eletricidade chamada "estática" (se fosse sempre estática
não seria perigosa), que aparece no frotamento em materiais muito
isolantes, p.ex., já é danosa na manipulação
de microcircuitos, placas de computador, etc.), pois pode destruí-los.
A tela do computador está geralmente muito carregada. Deve-se descarregar
o corpo tocando em grandes massas metálicas, um profissional usaria
pulseira ligada à terra.
Ela não é perigosa para as pessoas porque a corrente que
gera é muito baixa. Temos alta tensão também
inofensiva, apenas incômoda, no acionamento das velas de um carro,
no acendedor de fogão e, agora, em aparelho de defessa pessoal.
Assim, os letreiros de advertência que indicam "PERIGO, ALTA
TENSÃO" deveriam mais corretamente dizer: "GRANDE PERIGO DE CORRENTE
MORTAL", vocês não acham?
Na forma de raio sim, ela mata facilmente, descarregando pelos objetos
mais altos e pontiagudos. Trata-se de uma grande diferença de cargas
opostas entre a terra e as nuvens, procurando o encontro para se neutralizar
(diz-se que o raio cai, na verdade é impossível ver a corrente
se deslocando, ele tanto pode subir como descer).
A proximidade com as nuvens é maior nos pontos altos, e o efeito
de ponta de um condutor, levando à concentração de
campo elétrico, ajuda a quebrar o meio isolante que é o ar
e gerar a condução da descarga.
Pessoas que procuram se proteger da chuva embaixo de árvores, pessoas em um campo aberto (praia, campo de futebol), pessoas na piscina ou no mar, ou ao telefone (por falta de aterramento), são as vítimas mais comuns. É dito que um pára-raios protege num raio (de distância) igual a sua altura, mas isto somente se estiver bem aterrado, freqüentemente o cabo está corroído. Hoje em dia o aterramento se faz múltiplo.
Ha uma esperança no progresso técnico-científico: a descarga de raios por meio de pararraios feitos de feixe lêiser: http://www.ifi.unicamp.br/~knobel/radar/newspro/fullnews.cgi?newsid983242800,90755,
Há um outro perigo na eletricidade quieta: sua conservação
por alguns aparelhos. Mesmo desligado, um televisor guarda alta tensão
no circuito de bobina de tubo de imagem.
Em nosso curso, logo perceberemos que uma fonte não deixa de
ter tensão pelo fato de ser desligada da tomada.
ATÉ ONDE UM MATERIAL É ISOLANTE?
A umidade, a presença de sais, tornam um material condutor. Como vimos no caso do ar, um material isolante pode deixar de sê-lo se a tensão for maior que um valor limite.
Assim, um fio de papagaio tocando no fio de alta tensão da rede elétrica, pode conduzir e matar. Mais ainda se estiver molhado, claro, nesse caso o papagaio pode até atrair um raio, como no famoso caso do pioneiro Franklin.
O gás de um tubo fluorescente é primeiramente tornado
condutor por meio de uma faísca de alta tensão gerada no
chamado "reator".
PARA SUA TRANQUILIDADE
Até hoje não houve um único acidente sério no trabalho de F 329. Acidentes elétricos, por outro lado, nem sempre são fatais, e o primeiro socorro consiste em desenrolar a língua da pessoa para evitar asfíxia, respiração artificial pode ser útil, mas não estou totalmente informado como para indicar essas medidas. Toda indústria tem uma comissão de segurança de acidentes, CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), que trata disso, e a UNICAMP também tem.