Introdução
Múons da radiação cósmica
Viagem clássica
Viagem relativística
Contração da distância

Introdução


 

Agora vamos ver uma comprovação da Teoria da Relatividade Especial.

 

Estudaremos a dilatação do tempo de vida dos múons na atmosfera terrestre e a contração do comprimento do seu percurso.

 

Veremos que a abundância das partículas múons na superfície da Terra só pode ser explicada com o uso das equações relativísticas.

 

Inicialmente, vamos conhecer a origem dessas partículas relativísticas, como e onde são produzidas e quais são as suas características principais.


Após conhecermos um pouco destas partículas, realizaremos um cálculo da previsão de alcançarem a superfície da Terra, após serem produzidas na alta atmosfera. As previsões obtidas com a mecânica clássica e com as equações da Teoria da Relatividade Especial serão comparadas.

 

Você sabia que somos atravessados ininterruptamente por estas partículas?

Mas pode ficar tranquilo!

Isto ocorre desde a formação do Universo, antes mesmo de o homem existir.


Múons da radiação cósmica


(Clique na imagem para ampliá-la )

Continuamente, raios cósmicos de alta energia, vindos do espaço sideral, entram na atmosfera terrestre e interagem com seus elementos, dando assim início a um processo de produção de partículas em cascata, que dá origem a milhares de partículas secundárias.

São então produzidos píons neutros (πo) e carregados (π+ e π-). Os píons carregados interagem com os átomos da atmosfera ou decaem em múons, positivos (μ+) ou negativos (μ-), segundo o seguinte esquema
 

 

 

A partícula múon foi descoberta em 1937 por J. C. Street e E. C. Stevenson, e simultaneamente por a Carl D. Anderson e Seth Neddermeyer, através de experimentos utilizando a radiação cósmica.

Inicialmente, acreditou-se que o múon fosse a partícula prevista por Yukawa em 1935, mas a descoberta do píon em 1947, pelo grupo de Bristol, com participação decisiva do físico brasileiro Cesar Lattes, mostrou ser esta última a partícula prevista pela teoria de Yukawa. 


O múon é uma partícula carregada instável que decai em um elétron (ou pósitron), um neutrino e um antineutrino, e tem uma vida média de = 2,2 μs e uma massa de repouso de 106 MeV/c2

 

 

Os múons não sentem a interação forte do núcleo atômico e na sua trajetória perdem energia por ionização até decaírem. Isto faz com que a sua trajetória seja retilínea.

A maior parte dos múons é criada a uma altitude de 15 km, possuindo uma velocidade de 0,9998c (c = velocidade da luz no vácuo). Esta alta velocidade faz com que o seu tempo de vida no sistema de referência do laboratório seja consideravelmente dilatado.


Viagem clássica


Os múons decaem de acordo com a lei estatística da radioatividade

 

 

onde N(t) é o número de múons no instante t, No o número de múons no tempo t=0 e  τ o seu tempo médio de vida.

 

Agora vamos utilizar a mecânica clássica para descrever a viagem do múon desde o seu ponto de produção, 15 km acima do nível do mar, até a superfície da Terra.

 

O tempo que os múons levam para percorrer 15 km de atmosfera visto no referencial da Terra é dado por 

 

 

Então o número N de múons que chegam ao nível do mar em relação ao número No de múons produzidos a 15 km de altitude é dado por

 

   

A previsão feita com a mecânica clássica é de que somente 132 de cada trilhão de múons produzidos chegam à superfície. Praticamente nenhum!


Viagem relativística


Acabamos de ver que o tratamento clássico da viagem do múon não explica a sua abundante presença na superfície terrestre. Então, vamos ver o que prevê a Teoria da Relatividade Especial. 

 

A equação da dilatação do tempo, com o tempo próprio do múon τ, fica

 

 

Utilizando este valor de tempo dilatado na equação do decaimento, temos

 

 

 

 

A previsão de chegada dos múons na superfície terrestre, obtida através da Teoria da Relatividade Especial, é 4.800.000.000 (quatro trilhões, oitocentos bilhões) de vezes maior do que a previsão não relativística, estando em acordo com os resultados experimentais.

 


Contração da distância


O resultado equivalente pode ser obtido, se analisarmos o movimento a partir do referencial do múon.

 

Neste caso, devemos utilizar a equação da contração da distância. Observe que ΔLp é a distância do ponto de produção do múon na atmosfera ao solo terrestre, medida no referencial da Terra.

 

 

 

Para o múon, a superfície da Terra está distante somente 300 metros, logo, o tempo que ele leva para percorrer esta distância é dado por

 

 

 

Podemos agora calcular a taxa de múons sobreviventes na superfície terrestre

 

 

 

Como esperado, o resultado é o mesmo do cálculo com a equação da dilatação do tempo, reafirmando a validade da Teoria de Relatividade Especial.