SOBRE UNIVERSIDADES ARGENTINAS
As universidades surgem na América pela tradição
hispana, no México, e chegam ao sul pelo Virreinato do Alto Perú.
Na Argentina, a mais antiga é a de Córdoba (1613), tendo
como destacadas universidades as de Buenos Aires (UBA-1821) e La Plata
(UNLP-1897), as quais
vou me referir parcialmente no curto espaço desta matéria e também de meu conhecimento, falando um pouco do acontecido a partir do movimento da Reforma Universitária de 1918. Esse movimento se gestou em Córdoba com grande atividade estudantil, e abrangeu toda a América Latina, trazendo uma mudança, dando vigência à autonomía, renovação dos conteúdos e do corpo docente, e o co-governo: professores, estudantes, pessoal administrativo e graduados. As cátedras sendo obtidas em concursos públicos, com abertura de cátedras paralelas. Formação de centros estudantís por faculdade, com eleição de representantes. Ingresso irestrito, igualdade de oportunidades, democratização e liberação dos oprimidos. Na Argentina, tanto podia cursar um filho de operário como um de clase mais abastada, o empecilho do custo de livros era atenuado pelo acervo de bilbiotecas, tanto da universidade como as de bairro. Á Universidade Nacional de Córdoba devemos ao mesmo tempo a |
tradição tanto nas ciências jurídicas
como nas exatas, e a renovação pela Reforma e pelo espírito
estudantil. A Universidade de Buenos Aires não podia deixar
de ter um papel destacado por estar na capital do pais, centro neurálgico
por onde passa toda a política (a través do governo) e a
economia (também a través do porto). Os três ganhadores
dos prêmios Nobel de Ciência argentinos se formaram la, a editora
EUDEBA criada em 1958 teve ampla trascendência na cultura argentina,
vendendo livros em edições populares até em bancas
de revistas, e textos úteis à carreira universitaria. A Universidad
Nacional de La Plata, na capital da provincia de Buenos Aires, teve grande
alcance em Iberoamérica,
com grande quantidade de estudantes peruanos, bolivianos, paraguaios e formando até quem foi presidente da Venezuela [errata: Guatemala] (J.J. Arévalo). Os dois premios Nobel argentinos da Paz foram professores nela, o músico Alberto Ginastera e outros destacados artistas também. Teve a que acredito foi a primeira escola de cinema da América Latina, tem una emissora de radio há mais de 60 anos, sempre teve uma escola de primeiro grau e três de segundo grau: uma garantindo o ingresso à universidade com um ano adicional de estudos, outra com especialização docente, outra com especialização em artes. O Museu é de grande |
importância e possui coleções muito valiosas
de fósseis americanos (dinossauros entre eles), de achados de arqueologia
indígena e recebe a visita de escolas do pais inteiro.
As ditaduras argentinas tem em maior ou menor grau atacado as universidades: a primeira deste século, em 1930, nomeando interventor e eliminando sua autonomia. O primeiro governo de Perón incitou nos anos 40 massas operárias contra a universidade "alpargatas si, libros nó" foi o refrão da época, e também acabou com a autonomia, despejando aos professores a cacetadas. A de 1955 deu-lhe autonomia desde que aceitasse a repressão à oposição política, a de 1966 a controlou com fechamento, novo despejo a cacetete, intervenção e o aparecimento de policiamento ostensivo com armas de guerra. As de 1976,com a eliminação física de membros, a perda da autonomia, a tortura, a expulsão dos estudantes estrangeiros e a redução do orçamento anual. A pesar da perda de poder económico do pais, temos hoje universidades públicas e privadas em todas as cidades importantes. A universidade argentina é uma instituição que sobrevive aos séculos, enfrentando os desafíos das mudanças de época. José J. Lunazzi é profesor do Instituto de Física "Gleb Wataghin" da UNICAMP |
*******************************************************************************************************************