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Programa de Gestão: Seção 2

Universidade Pública e o Conhecimento

"Nenhuma ação do bom governo é mais valiosa do que o enriquecimento do mundo
com conhecimento confiável e fértil"
(Francis Bacon, 1605)
 

Transformando a matriz herdada de modelos medievais, Universidade hoje é a instituição à qual as sociedades modernas atribuem a tarefa de produzir, criticar e pôr em circulação o saber, nas diferentes áreas da ciência, das humanidades, das artes e da tecnologia. O fato notável, e que contraria o senso comum que querem nos vender hoje no Brasil, é que, em todo o mundo, quem sustenta a Universidade são majoritariamente os recursos públicos.

Criada no Brasil só nos anos 30 deste século e com uma história muito curta e, portanto, com uma tradição muito frágil, a universidade brasileira firmou seu compromisso com a educação superior pública e gratuita, que não pode ser rompido sob pena de esvaziamento de uma das poucas instituições públicas brasileiras que tem sido efetivamente pública, democrática e maciçamente eficiente.

A conjuntura externa leva os diversos setores da sociedade a questionar e cobrar mais intensamente da universidade pública os investimentos nela efetuados. A universidade pública tem contribuído para o desenvolvimento nacional, através da formação de pessoal e geração de conhecimento, mas é preciso fazer isto ainda mais e melhor. A defesa da universidade pública brasileira exige um projeto de excelência para a UNICAMP, que demonstre inequivocamente que é possível desempenhar o papel social esperado da universidade responsável e efetivamente.

Universidade Pública no Brasil

O desenvolvimento econômico e social brasileiro foi todo construído a partir da formação de quadros qualificados na universidade pública. Esta contribuição expressa-se no currículo da quase totalidade dos profissionais bem sucedidos nas mais distintas atividades de diferentes campos de mercado e nos cargos mais altos da própria administração pública: em todos estes espaços, o número de graduados e pós-graduados pela rede universitária pública excede de muito o número de graduados na rede privada.

Entretanto, faz algum tempo que a universidade pública brasileira perdeu sua face específica. Sua identidade esgarça-se entre diferentes papéis que lhe querem atribuir forças externas e internas. Entre trancos e barrancos, segue esta universidade dessorada, ora aplaudida e freqüentemente criticada por ser ou por não ser o que ela não pode ser.

Conhecimento é o objeto

Nem a prestação (barata) de serviços, nem o resgate da dívida social brasileira, nem a oferta de serviços à comunidade, nem tudo isso junto define a identidade da universidade pública brasileira, nem tampouco exprime suas funções.

Primeiro pressuposto de meu projeto é que em todas as suas instâncias, decisões, projetos e posições a universidade precisa ser fiel à natureza de suas atividades-fim, que são a produção, a transferência, a difusão e o armazenamento de conhecimento. Conhecimento portanto é o objeto por excelência da vida universitária.

Equivale dizer que a universidade precisa sempre privilegiar o acadêmico e que suas outras funções ­ da contribuição para uma melhor condição de vida para o povo brasileiro à melhoria da qualidade de vida de seus alunos no campus ­ subordinam-se a esta função maior que subsume todas as demais.

Só na fidelidade rigorosa a esta sua natureza acadêmica a universidade cumprirá melhor sua função política e sua função social num país como o Brasil, num momento em que se redesenham pactos econômicos e se (re)negociam papéis sociais, num cenário em que educação, conhecimento, cultura, ciência e tecnologia são as moedas políticas mais fortes.

Desgaste da Universidade Pública

Talvez a perda de sentido acadêmico da universidade brasileira contemporânea seja em boa parte responsável tanto pela fragilidade institucional que a ameaça de fora quanto pelo clima de desencanto e insatisfação que a ameaça de dentro. Somam-se ainda a estes fatores a extrema complexidade que enquanto instituição a universidade foi assumindo, e um desconhecimento, pela grande maioria de seus professores, alunos e funcionários, de seus mecanismos e meandros administrativos. Mas é bom lembrar que ataques à instituição universitária não são algo novo nem uma exclusividade tupiniquim. Foi Adam Smith quem escreveu em A Riqueza das Nações (1776), ao se referir aos professores de Oxford: "Ö fazem causa comum em serem muito indulgentes uns com os outros, e cada um consentir em que seu vizinho possa negligenciar seus deveres, desde que ele mesmo possa negligenciar os seus". A qualidade atingida por aquela universidade demonstra que, sabendo responder construtivamente, o futuro da instituição universitária está garantido.

Agrava ainda mais o quadro a burocratização de várias de suas instâncias, a pouca clareza do projeto nacional no qual necessariamente a universidade deveria inserir-se. Provavelmente, este estado de coisas deve-se à escassez de lideranças nas áreas de Educação e Ciência no país e, por conseguinte, à dificuldade dos dirigentes destas áreas na formulação e implementação de medidas coerentes com as demandas nacionais e regionais, e com as mudanças no mundo. Parece resultar disso uma espécie de paralisia que impede a universidade de chamar o jogo para seu próprio campo, e traçar um programa de curto, médio e longo prazo para si mesma.

Programa que talvez represente a única possibilidade de sua sobrevivência.

O baixo poder aquisitivo dos salários do ensino superior público brasileiro responde por muito do desencanto e insatisfação que grassam no campus, problemas que mais se agravam pelo concertado coro de vozes que, na imprensa e não poucas vezes no legislativo e no executivo empurram a universidade para o banco dos réus, culpabilizando-a pelo descalabro da res publica brasileira.

O descontentamento daí derivado intensifica-se no contexto contemporâneo de mudanças no jogo da previdência, de alterações profundas na legislação do serviço público e de um redimensionamento do estado. Esta situação pede uma corajosa tomada de posição da reitoria.

A UNICAMP na defesa da Universidade Pública

É fundamental produzir uma cultura no campus que expresse a idéia de que administração central, docentes, alunos e servidores têm em comum algo mais do que simplesmente um local de trabalho. Têm em comum o respeito pela instituição em que atuam, a confiança mútua de que dão o melhor de si no desenvolvimento de suas diferentes funções. É essencial a preservação da identidade de cada segmento, tendo em comum a parceria na defesa intransigente do ensino superior público de qualidade.

Cumpre à reitoria orquestrar a execução e implementação de um projeto para a UNICAMP que se traduza no resgate da dignidade da universidade pública e de sua comunidade, através da retomada do acadêmico em sua ética, em seu discurso, em sua prática. É preciso, nesta retomada, manter fidelidade a nosso perfil histórico, no qual precisamos distinguir o que é circunstancial do que é essencial. Esta distinção é básica para o traçado de planos para cada uma das unidades, que sejam compatíveis com suas respectivas histórias.

Valorização acadêmica é a única matéria prima que pode assegurar a travessia da universidade que somos para a universidade que queremos, que precisamos e que podemos ser. Uma universidade cujo crescimento não se limite ao aspecto quantitativo de seu corpo discente, mas saiba conjugar ao essencial aumento de vagas, a herança de nossa história de universidade criada com vistas à excelência.

Zeferino, Plínio, Pinotti ­ Paulo Renato, Vogt, Martins

Há trinta e poucos anos iniciou-se em Campinas a construção de uma instituição que viria a revolucionar o ensino superior brasileiro. Fundada na busca definitiva da excelência e da aplicação do conhecimento, a UNICAMP trouxe ao ambiente acadêmico brasileiro a idéia de que interagir com a sociedade era desejável e bom para o desenvolvimento da instituição acadêmica.

Ao período inicial das "vacas gordas", durante o qual os recursos eram fartos mas nem sempre aplicados eficientemente, seguiu-se o período de desalento do final dos anos 70 e início dos 80, culminando na intervenção orquestrada pelo então governador Maluf em 1981.

Vencida mais esta tormenta com a ampla participação de toda a comunidade universitária, seguiu-se um período de institucionalização e estabelecimento das regras de convívio. Iniciava-se um período institucional onde, a par da constituição de órgãos colegiados representativos, passamos a ter a participação da comunidade no processo de escolha dos seus dirigentes, inclusive o Reitor. Desde então, grandes mudanças foram verificadas. Desde o primeiro Reitor nomeado através deste tipo de processo ­ está para se escolher o quarto ­ diversos projetos marcaram as sucessivas gestões em nossa universidade. Podemos lembrar o esforço em reequipar laboratórios de ensino e pesquisa que estavam insuficientes e obsoletos (programa BID ­ EXIMBANK), em melhorar a qualificação do Corpo Docente (Projeto Qualidade), em recuperar o acervo de periódicos e ampliar a oferta de vagas diurnas e noturnas para Graduação, e de novo o investimento na infra-estrutura de pesquisa, agora com os recursos da Fapesp. Além disso, através de iniciativas das unidades de ensino e pesquisa, como decorrência do alto nível do nosso corpo docente, tivemos e continuamos tendo um forte crescimento na nossa Pós Graduação e o engajamento em projetos de pequena ou grande envergadura que, em conjunto, trazem para a universidade um volume cada vez maior de recursos extra-orçamentários.

Hoje, mais que em épocas passadas, o quadro é de tal complexidade, que uma proposta de gestão universitária demanda a definição de metas objetivas, que possam representar, mais que tudo, a recuperação da organicidade institucional e da clareza dos seus objetivos.

O grande divisor de águas na história recente da UNICAMP foi a instituição, a partir de 1989, do regime de autonomia financeira com vinculação orçamentária que promoveu grandes mudanças no modo de trabalhar e administrar na universidade. À liberdade de planejamento advinda da garantia de recursos anuais, soma-se a responsabilidade de realizar com estes o melhor investimento, e de conseguir cobrir todas as despesas. Isto tudo numa situação de aprendizado em vôo e convivendo com práticas ancestrais, estabelecidas no período pré-autonomia.

Onde chegamos

Hoje em dia a UNICAMP, por qualquer indicador de excelência que se utilize, está entre as melhores universidades brasileiras. Atingimos excelente nível em vários aspectos, em particular na formação profissional, pesquisa e produção cultural. Ela desempenha também um importante papel social nas suas várias atividades de extensão, nas áreas de saúde, parcerias com os setores privado e público para o desenvolvimento tecnológico, atividades culturais e cursos de extensão, entre outros.

    • Tabela I. Evolução de alguns dos indicadores da UNICAMP nos últimos dez anos.

 

1986

1996

Alunos na graduação

6.756 10.304

Alunos na pós-graduação

4.681 9.900

Doutorados defendidos

61 368

Mestrados defendidos

190 773

Porcentagem de docentes doutores

48% 82%(*)

Artigos em revistas indexadas (SCI)

226 651

Vagas no vestibular

1.470 2.245(+)

Consultas no HC

240.234 438.585

Cirurgias no HC

5.788 16.301

(*) Dado de 1997

(+) Vestibular 1998

 

 

Esta posição foi alcançada pelo trabalho e esforço de todos os setores da universidade, corpos docente e discente, funcionários técnicos e administrativos e dos diversos níveis da administração universitária. Papel relevante neste desenvolvimento desempenharam ainda a institucionalização, a autonomia orçamentária e a gradual descentralização administrativa e qualificação do orçamento. Este desenvolvimento possibilitou que as atividades e interesses dos diversos segmentos da comunidade fossem, cada vez mais, debatidos e priorizados dentro de um ambiente de crescente diversidade, democratização e transparência de gestão.

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