A UNICAMP em primeiro lugar

 

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Programa de Gestão: Seção 5

A geração e a difusão do conhecimento

"Mas os governos não estão interessados na verdade última (a não ser na ideologia ou
religião), mas na verdade instrumental. No máximo, podiam promover a pesquisa "pura" (isto é,
no momento inútil) porque ela poderia um dia produzir algo de útil, ou por motivos de prestígio
nacional, em que a busca de Prêmios Nobel vinha antes da de medalhas olímpicas e ainda continua mais
altamente valorizada. Essas eram as bases nas quais as triunfantes estruturas de pesquisa e da teoria científicas
se erguiam, e pelas quais o século XX será lembrado como uma era de progresso humano e não,
basicamente, de tragédia humana"
(E. Hobsbawn, em "A Era dos Extremos", 1994)

"Pesquisa é uma expressão de fé na possibilidade do progresso. ... Pesquisa, especialmente
a pesquisa acadêmica, é uma forma de otimismo sobre a condição humana"
(H. Rosovsky em "The University ­ an Owner's Manual", 1990)

A busca constante da excelência deve orientar a geração do conhecimento na pesquisa e na produção cultural. Isto em nada contradiz a aplicabilidade e utilidade dos resultados, pelo contrário, só as reforça. O compromisso com a qualidade e a excelência exige a defesa da universidade como o locus do saber, da liberdade acadêmica e da inteligência, livre do dirigismo, mesmo o mais bem intencionado. Este é um pressuposto fundamental na defesa da autonomia universitária e na preservação da diversidade e da capacidade da universidade de olhar além dos limites exíguos do utilitarismo e de conjunturas momentâneas.

Liberdade acadêmica: a qualidade em primeiro lugar

Ao longo de toda a história da universidade como instituição a liberdade acadêmica tem sido o valor mais prezado e defendido, intrinsecamente ligado à autonomia universitária. O compromisso com a qualidade acima de tudo não tem afastado a UNICAMP de contribuir, diretamente, com resultados de pesquisa e formação de pessoal em áreas de enorme interesse social e de aplicação imediata. E esta contribuição além de relevante é num nível de excelência. As unidades de ensino e pesquisa têm procurado as oportunidades e realizado centenas de projetos, utilizando sua capacidade instalada de pessoal, laboratórios e conhecimentos.

Por outro lado, quando se aceita a introdução de critérios extra-qualidade, e se fala em priorizar determinadas linhas de pesquisa ou regiões ou temas, em geral a primeira vítima costuma ser a excelência acadêmica: estamos cansados de ver as priorizações regionais aplicadas por algumas agências de financiamento de pesquisa e que ao tornarem secundário o critério de excelência só prejudicam instituições como a UNICAMP.

A diversidade como fonte de conhecimento

Uma das grandes forças de uma universidade é a diversidade de saberes que ali habitam e convivem. Esta diversidade deve ser estimulada ­ um item fundamental da vida acadêmica é o respeito às especificidades de cada área do conhecimento. Os diferentes objetos de estudo, as várias metodologias, determinam que nas diferentes ciências o progresso do saber ande em passo variado. Da mesma forma a divulgação do conhecimento acontece por vias diversas. A UNICAMP sofreu um processo de balcanização, resultado em boa parte da falta de prioridade para os valores e práticas acadêmicas. Neste processo as diferentes áreas fecharam-se em torno de si mesmas, erigindo obstáculos defensivos à interação e criando um ambiente de disputa e rivalidade bem além da competição saudável. A reversão deste processo exige ação da administração central no sentido de estimular a convivência acadêmica, através de ciclos de conferências, debates e seminários que discutam os fundamentos do conhecimento nas ciências, na tecnologia, nas artes e nas humanidades. Toda a comunidade tem a ganhar com a intensificação desta interação, especialmente os estudantes.

O respeito à diversidade acadêmica pressupõe o reconhecimento de diferentes indicadores de excelência e diferentes culturas numa universidade. E sempre, o eixo comum que une as diversas áreas deve ser o da busca da excelência segundo seus referenciais universais.

A pesquisa na UNICAMP e a sociedade

Ao mesmo tempo que tem priorizado a qualidade da pesquisa, a UNICAMP, consistentemente com a idéia de universidade como espaço de criação livre, não tem estabelecido prioridades em termos de áreas, linhas ou temas de pesquisa. Numa sociedade democrática, a definição de prioridades em pesquisa deve ser feita através dos mecanismos institucionais existentes para isto, que são os governos, secretarias de estado, Congresso Nacional, Conselhos Estaduais e Nacionais de C&T, etc. Espera-se que a UNICAMP tenha, como tem tido, uma participação ativa nesta definição em todos os níveis, desde docentes da universidade que participam de Comitês Assessores de agências como CNPq, Fapesp, CAPES, até aqueles que ocupam posições de maior destaque político e têm sido membros ativos, por vezes dirigentes mesmo de alguns destes órgãos. Deve a UNICAMP cuidar de organizar, aqui mesmo no campus, simpósios e debates sobre o tema Ciência, Tecnologia e Sociedade e suas ramificações, como o que foi organizado em 1995 com a participação de ministros, reitores e pró-reitores de universidades brasileiras para debater ensino superior, pesquisa e pós-graduação no país, ou nos moldes das várias visitas que recebemos de dirigentes de agências de financiamento para discussões com o corpo docente.

A difusão do conhecimento

O estímulo à interação com a sociedade deve incluir a valorização das atividades de consultoria, que podem ocorrer para empresas, órgãos de governo, associações, etc... Nas boas universidades internacionais esta é uma atividade reconhecida e que dá prestígio aos que a realizam. Na UNICAMP, estabelecido o número de horas semanais que podem ser usados nesta atividade (8 horas, o mesmo que em quase todas as universidades internacionais), deveremos simplificar os mecanismos de contratação, preservando os interesses institucionais.

Ao mesmo tempo devemos intensificar todas as modalidades de difusão e aplicação dos saberes específicos da UNICAMP. Da Área de Saúde, na assistência médica de qualidade à população, às manifestações culturais oriundas da Área de Artes e Humanidades, passando pelos Cursos de Extensão e outras modalidades de convênios e contratos.

Produção Cultural

A produção artística e cultural, como resultado da pesquisa e conteúdo do ensino deverá ser apoiada através da busca de infra-estrutura adequada, integração plena do corpo docente à estrutura institucional da universidade e investimento em sua qualificação. Em particular, é importante reconhecer a especificidade da produção acadêmica da área de artes, bem como as características do profissional e da carreira especial. Cabe à reitoria tomar a iniciativa, além de apoiar as gestões do Instituto de Artes, na busca de recursos para o suporte às atividades culturais, que nem sempre encontram suporte nas agências de financiamento de pesquisa.

Ensinar com a Pesquisa

Sempre é preciso não esquecermos que a missão primordial da universidade é formar recursos humanos e, no caso da UNICAMP, com todo o investimento que nela se faz pelos contribuintes, formar recursos humanos em nível de excelência. Para esta formação é absolutamente essencial a oportunidade de atuação e convivência com pesquisa na fronteira do conhecimento. Além da expressiva participação dos pós-graduandos nas atividades e na autoria dos resultados de pesquisa da UNICAMP, é importantíssimo que a formação comece mais cedo, já na Iniciação Científica. E na formação deste profissional, num mundo em que os avanços técnicos se dão em velocidade vertiginosa, é necessário garantir a flexiblilidade de raciocínio, a interdisciplinaridade, e a formação fundamental. A atividade de pesquisa traz contribuição insubstituível para esta formação, ao desenvolver o raciocínio independente, a criatividade e o método no tratamento de novos problemas. Estes jovens profissionais, formados dentro dos mais altos padrões acadêmicos e éticos, é que são a principal contribuição da UNICAMP para fazer do Brasil um país mais educado e mais justo.

O financiamento da pesquisa

Nos últimos anos as oportunidades de financiamento de pesquisa no Estado de São Paulo têm sido muitas, e a UNICAMP tem delas participado intensamente. Anualmente os docentes da UNICAMP têm contratado com a Fapesp uma média de R$ 30 milhões. Somados aos Pronex, bolsas de CNPq e Capes, anualmente a UNICAMP tem captado uma média de R$ 70 milhões para investimento em pesquisa e sua infra-estrutura. A própria questão da infra-estrutura, antes um problema crônico, teve sua situação muito melhorada com o Programa Fapesp de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa, e agora com a implantação do regime de reserva técnica ampliada estabelecido por esta fundação.

Mesmo assim a universidade deve incrementar substancialmente seus esforços institucionais de captação de recursos. Não se trata de cair na ilusão de que "os recursos do setor privado vão substituir os recursos governamentais" no apoio à pesquisa. Mas sim de buscar uma interação que é desejável e saudável pelos seus aspectos conceituais ­ a contribuição à educação de melhores profissionais. A UNICAMP tem um órgão destinado a esta captação, que é o ETT. Este deve ser reforçado e profissionalizado. Por outro lado este esforço deve ser acoplado e apoiado pela Funcamp, que de gerenciadora de projetos deve passar a ter um perfil muito mais captador. Um passo para isto será o estabelecimento de um sistema de taxa administrativa diferenciada, de acordo com o papel desempenhado pela fundação na captação do contrato ­ contratos captados exclusivamente pelo mérito e esforço dos docentes pagarão uma taxa menor do que aqueles captados por ação decisiva da fundação.

As taxas ("overheads") cobradas pela UNICAMP serão revistas. Em particular a existência de uma taxa nominal muito mais alta para certos tipos de contratos (PIDS x FAEP e AIU) cria um ambiente desestimulante para a contratação em várias oportunidades, além de reduzir a competitividade da UNICAMP. Ainda mais, a experiência mostra que as taxas praticadas são efetivamente muito inferiores às taxas nominais, principalmente devido às restrições ao pagamento de taxas existentes por parte de vários contratantes, dos quais o principal é o governo federal.

    • Tabela III. Valores contratados e recolhidos em taxas para FAEP, AIU (Apoio Institucional à Unidade), PIDS e FAE (Fundo de Apoio à Extensão), no ano de 1996, percentual efetivamente recolhido sobre o total e percentuais nominais de taxa. (Fonte: Funcamp)

 

Contratado

FAEP

AIU

PIDS

FAE

Valor (R$)

18.8731.565,16 448.535,13 790.457,60 518.992,09 113.472,28

Taxa Efetiva

­ 2,4% 4,22% 2,77% 0,6%

Taxa Nominal

­ Até 5% Até 5% Mín. de 20% [1] 5%

[1] exceto para contratos de pesquisa

Um Conselho Científico na UNICAMP

Este deverá ser um órgão que congregue as experiências na atividade de pesquisa nas várias unidades da universidade, promova o intercâmbio interno e a discussão de problemas sobre a fronteira do conhecimento nas várias áreas e sobre o estado da pesquisa na UNICAMP. A organização destas discussões poderá potencializar os esforços de pesquisa da universidade. A constituição e as atribuições deste conselho serão objeto de proposta ao CONSU.

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